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Investigação de Áreas Contaminadas

Esse texto foi originalmente publicado na página da ECD, e trata da Investigação de Áreas Contaminadas. Não é uma receita de bolo, mas é uma proposta de metodologia de investigação que resume as boas práticas nesse item importante do gerenciamento de áreas contaminadas.  Boa leitura.

A Investigação de Áreas Contaminadas é a etapa crucial para uma adequada recuperação dessa área. A ECD, através de seus permanentes estudos, pesquisas e publicações, recomenda o seguinte protocolo para uma adequada investigação:

1. Identificação da Fonte: é essencial localizar a posição exata da fonte primária, ou seja onde efetivamente ocorreu o evento que causou a contaminação. Essa identificação pode ser feita por meio de uma Avaliação Preliminar, atividade prevista da Decisão de Diretoria 038 (DD-038) da CETESB e  que é feita pelos Responsáveis Técnicos (Consultorias); ou por meio de uma varredura (screening). Mais à frente, serão descritos alguns métodos de varredura que a ECD disponibiliza.

2. Identificação e Delimitação Das Unidades Hidroestratigráficas: é preciso que se tenha uma ideia inicial de onde (em que profundidade) estão as diferentes unidades hidroestratigráficas, com especial atenção na diferenciação entre zonas de fluxo e zonas de armazenamento. Como o próprio nome já diz, nas zonas de fluxo ocorre prioritariamente o transporte das Substâncias Químicas de Interesse (SQIs) e nas zonas de armazenamento ocorre prioritariamente a retenção dessas SQIs. A atividade com melhor custo-benefício para essa definição inicial das Unidades Hidroestratigráficas é a Amostragem de Solo de Perfil Completo (ASPC), que é feita, obviamente, coletando-se amostras de solo inclusive na zona saturada, conforme já dissemos aqui. No entanto, essa ASPC deve se utilizar de ferramentas que possibilitem a coleta de amostras de solo representativas (lembrando, zona saturada), que não são o Trado Manual nem os helicoidais dos trados (oco ou sólido). É fundamental que se utiliza a tecnologia Direct Push, e que seja Dual Tube, Piston Sampler ou Single Tube revestido por Hollow Stem Auger. Não é possível coletar amostras representativas com outras ferramentas.

3. Varredura (Screening) vertical das SQIs: durante a amostragem de solo, é possível fazer diversas atividades que possibilitam uma adequada varredura vertical das SQIs, sem precisar recorrer a ferramentas adicionais como MIP, OIP, UVOST entre outras. Se a SQI for algum composto orgânico volátil (VOC), fazer furos no liner a cada 10 cm e medir com o PID faz uma varredura vertical razoável. Além dela, é possível utilizar a Varredura Vertical de Voláteis com Aquecimento em Campo, idealizada pela ECD, que melhora a precisão dessa atividade. Se a SQI for um hidrocarboneto predominantemente alifático ou PAH, é possível utilizar a Caixa Preta de Luz UV-A, desenvolvida pela ECD, conforme mostramos aqui. Particularmente na área fonte, é essencial que seja feita essa varredura vertical, e ela pode ser feita com boas amostras de solo. Novamente aqui é necessário que a amostragem seja feita por Direct Push: Dual Tube, Piston Sampler ou Single Tube revestida por Hollow Stem Auger.

4. Seleção, coleta e preservação de amostras de solo para análises químicas: durante a amostragem de solo para a etapa anterior, é conveniente que já sejam coletadas amostras para análises químicas, em cada unidade hidroestratigráfica relevante e em profundidades definidas pela geologia (unidade hidroestratigráfica relevante) e pela varredura vertical realizada e descrita no item 3. Se as SQIs forem voláteis, é necessário seguir a norma NBR 16.434.

5. Detalhamento das Unidades Hidroestratigráficas: a amostragem de solo muitas vezes carrega algumas incertezas para a definição exata das UH e dos seus limites. Por isso, muitas vezes é preciso lançar mão de ferramentas mais precisas para essa finalidade. Atualmente, no Brasil, existem o HPT, o DPIL e o RCPTu que suprem essa necessidade. A ECD oferece o RCPTu como alternativa.

6. Coleta de amostras pontuais de água: nas profundidades correspondentes às unidades hidroestratigráficas que se configurem zonas de fluxo, é preciso que sejam coletadas amostras de água subterrânea. Mas essas amostras devem ser somente das UH identificadas, ou seja, a zona alvo da amostragem deve ser a mais discreta possível (menor possível). Em resumo, dificilmente um poço de monitoramento atende essa especificação. Mesmo um conjunto de poços multiníveis tem dificuldade de realizar adequadamente essa tarefa. desta forma, é preciso utilizar novas-antigas ferramentas, pouco conhecidas no Brasil, como o Screen Point Groundwater Sampler, o Poço Pré-Montado ou o Perfilador Vertical do Aquífero (PVA). A ECD oferece as três modalidades no seu rol de serviços.

7. Condutividade Hidráulica (K) em cada Unidade Hidroestratigráfica: para cada UH, deve ser obtido o valor da grandeza mais crítica da investigação, uma vez que varia em ordens de magnitude: a condutividade hidráulica. O K deve ser obtido somente da UH de interesse, sem misturas, o que praticamente inviabiliza o slug test em poços de monitoramento convencionais. Recomenda-se as seguintes alternativas: Direct Push Slug Test, com o uso do Screen Point Groundwater Sampling; Slug Test pontual, no poço pré-montado; ou Ensaio de Infiltração com Revestimentos Dual Tube. Nas zonas de armazenamento, o K pode ser obtido através de Ensaios de Dissipação de Poro Pressão (PPDT). Todos eles fazem parte do rol de serviços da ECD.

8. Dados adicionais em cada Unidade Hidroestratigráica: para cada UH devem ser obtidos dados físicos do solo ou matriz do aquífero, como granulometria, densidade, porosidade total e porosidade efetiva. Para isso, é necessária a coleta de amostras indeformadas especificamente da UH de interesse. Recomenda-se o uso de amostrador tipo Shelby concomitante com Hollow Stem Auger.

9. Instalação de poços de monitoramento: após identificada a UH de interesse mais propensa a apresentar uma Descarga de Massa relevante, devem ser instalados poços de monitoramento especificamente para monitorar (temporalmente) a evolução das concentrações em fase dissolvida que possam atingir algum receptor sensível. A ECD realiza essa atividade, por meio de Trados Ocos Helicoidais (Hollow Stem Auger).

Percebe-se que a lógica atual das investigações deve ser invertida, ou seja, a amostragem de solo deve ser priorizada, e a instalação dos poços deve ser uma das últimas atividades da investigação. Atualmente, investigar é praticamente sinônimo de instalar poços, o que, além de conceitualmente errado, vai contra a DD-038.
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Marcos Tanaka Riyis
fev/2019

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